sábado, 17 de outubro de 2009

Loucura ou falta de caráter? A visão de um psiquiatra sobre os criminosos

Em entrevista à reportagem do Ilustrado, o psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Sebastião Maurício Bianco, afirma que existem algumas patologias que podem levar a pessoa a praticar um crime, mas na maioria das vezes, o problema está no caráter
Val Meira/Umuarama
cidades@ilustrado.com.br

Mente criminosa existe? Uma pessoa que comete um delito carrega, em seu código genético, características que predispõe ao crime? São perguntas seculares de vítimas de barbáries, que tentam encontrar uma explicação lógica para o comportamento desprezível de criminosos que matam, espancam, estupram e roubam. De janeiro até agora foram registrados em Umuarama, 15 homicídios, 10 a menos que no mesmo período do ano passado. Mesmo com a redução, policiais civis e militares, com apoio da Guarda Municipal, se desdobram para dar melhores condições de segurança pública à sociedade.
Em entrevista à reportagem do Ilustrado, o psiquiatra e psicoterapeuta Dr. Sebastião Maurício Bianco, afirma que existem algumas patologias que podem levar a pessoa a praticar um crime, mas na maioria das vezes, o problema está no caráter. Ele explica a etimologia da palavra psicopata: psico significa mente e pata é a designação para doente, ou seja, doente da mente. “Hoje utilizamos muito o termo sociopata, ou seja, pessoas que tem problemas com o convívio social”.
Para falar sobre quais os transtornos que a patologia causa na mente, o psiquiatra fez a comparação do sociopata com a criança. “Quando uma criança faz algo errado e é corrigida, aprende a não ter mais aquela atitude. Já os sociopatas não têm esta mesma capacidade de aprender com as conseqüências”, exemplifica.
Prazer na dor alheia - Estas pessoas são motivadas pelo egoísmo e não conseguem analisar a dor dos outros. Somente o prazer dela interessa, pois quer resolver a questão própria. Geralmente são extremamente malvados e agressivos, porém disfarçam este comportamento mostrando-se dóceis e carinhosos, até serem contrariados.
Outra possibilidade é a de manipular outras pessoas para alcançar seus objetivos. O psicopata, ao contrário do que muitos pensam, é dotado de um grau elevado de inteligência. “Ele planeja o crime e arquiteta tudo para que não seja pego”. As ocorrências que envolvam mais violência, a exemplo do roubo e homicídio, podem ser praticadas tanto por pessoas aparentemente normais, como por psicopatas.
A diferença está na forma de agir do bandido. O que mata ou rouba e sente prazer na dor alheia é o psicopata. Mas a prática do crime não abrange apenas patologias, passionalidade ou desvio de caráter. Há também o grande número de usuários de crack envolvidos em atos ilícitos. “Estas pessoas são relativamente saudáveis, mas acabam se tornando sociopatas para satisfazerem seus desejos. Há estatísticas que apontam para um índice de que 90% dos assaltos sejam cometidos pelo uso da droga”, revela.
Crack x caráter - Para o psiquiatra, o crack está tornando as pessoas sociopatas por ser uma droga fumada, ou seja, a fumaça vai para o pulmão e o efeito é rápido. Em milésimos de segundos, o usuário fica eufórico e tem alucinações, delírios e inquietude, devido a grande quantidade de dopamina liberada no organismo. “A dopamina provoca a sensação de prazer, mas o efeito do crack passa logo. À medida que o tempo vai passando, o efeito é mais rápido”, conta.
Dr. Bianco explica que, de acordo com levantamentos, uma pedra de crack custa em média R$ 10 e tem pessoas que fazem uso de muitas durante o dia. Para manter este alto custo, a pessoa acaba praticando roubos e furtos. Mas há também algumas doenças que podem levar a pessoa a praticar o crime.
“Existe uma doença chamada bipolar, antigamente chamada de maníaco depressiva, que provoca fases de tristeza e outras vezes de irritação e euforia. Em alguns destes extremos, a pessoa pode fazer algo ilícito. Há também os esquizofrênicos que acham que todos querem matar eles. Neste caso, a pessoa também pode ser levada a praticar o crime, fato muito raro, uma vez que são menos agressivos do que a população geral”.
Serial killers e pedófilos - Na nossa região não há casos de serial killers, ou seja, matadores em série, mas o psiquiatra afirma que eles têm uma mente patológica e em geral praticam os assassinados motivados por questões sexuais mal resolvidas. Outro caso que preocupa é o de pedófilos. “Nestes casos, que são freqüentes, é necessário um tratamento, pois os pedófilos não conseguem enxergar a gravidade dos atos cometidos contra os outros. Mas para determinar se a pessoa é psicopata ou tem qualquer outra patologia, é necessária uma perícia médica, que sempre é solicitada quando o caso vai parar na justiça”, conclui.

Contra violência, trabalho preventivo, ostensivo e repressivo
O capitão Ênio Soares dos Santos, comandante da 5ª Companhia Independente da Polícia Militar, fez uma explanação do trabalho da corporação para amenizar a insegurança. Com um trabalho preventivo, utilizando equipe fardada e veículos caracterizados, a PM vista coibir a ação marginal.
“Uma de nossas funções é de promover ações que desestimulem a até mesmo evite crimes. Para isso, são feitas abordagens para retirar armas, drogas e veículos que potencialmente poderiam ser utilizados na prática de delitos”, assegura. O capitão explica que a droga, uma vez traficada é crime, se estiver sendo usada provoca riscos sociais como: roubo, estupro, ameaça e homicídio.
Já os veículos, se não estão sendo usados por uma pessoa de responsabilidade para fim lícito, são uma grande ameaça para população. “As armas representam grande risco contra as vidas das pessoas e por certo, se os portadores tiverem um espaço maior na comunidade, haverá maior chance de agirem. Mas é claro que a prevenção destes ilícitos depende da capacidade de reação e do potencial de policiamento para que estas pessoas não se sintam em condições de cometer o crime”, analisa.
Mas o comandante explica que o perigo não está em armas, drogas e veículos. “O problema está no ser humano desprovido de valores, ética e responsabilidade. Pessoas não espiritualizadas provavelmente ou fatalmente são suscetíveis à incidência de atitudes ou comportamentos reprováveis socialmente e criminosos”, avalia. Para o capitão, todos os setores de segurança pública devem trabalhar unidos. “Precisamos de uma justiça forte, para evitar a impunidade, que gera crime”

Em Umuarama, tráfico continua motivando crimes
Em Umuarama, é raríssima a ação de psicopatas. Na maioria esmagadora dos casos, os crimes são motivados pelo tráfico ou uso de drogas. Aproximadamente 90% dos homicídios têm como causas direta ou indireta, os entorpecentes. Para o delegado adjunto da 7ª Subdivisão Policial, Valdir Balan, a redução no número de assassinatos neste ano, foi devido ao trabalho integrado entre as polícias Civil e Militar, com apoio da Guarda Municipal. Mesmo assim, o minipresídio que tem capacidade para 64 presos, abriga hoje 206 detentos.
“Estamos trabalhando em conjunto e com isso temos conseguido evitar homicídios, assaltos e outros delitos. E as operações estão sendo intensificadas, simultaneamente ao trabalho investigativo”, assegura. O chefe do Grupo de Diligências Especiais (GDE) da 7ª SDP, Milton Carlos Cinque, concorda que o perfil dos criminosos da cidade é de cometer violência sob efeito de entorpecentes.
A preocupação atual é com relação a proximidade do final do ano, época em que os assaltos e furtos são intensificados pelos bandidos. A motivação, neste caso, é para abastecer com dinheiro as facções criminosas durante as festas.
Para evitar isso, os órgãos de segurança pública já começam a criar estratégias para coibir estas ações marginais. Operações, blitze, rondas constantes e um minucioso trabalho investigativo devem ser realizados simultaneamente no comércio e área residencial, visando melhoria na qualidade de segurança da população.

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